"é o suco dessa iguaria, suco da barbatana de uma língua que cruzou os mares" - pois é caro Horacio Costa, mas aqui não é o Saramago...

quinta-feira, 22 de março de 2007

O cabelo

Cortar o cabelo já não é o que era. Desde que me lembro, sempre frequentei o barbeiro a que o meu pai ia. Assim foi durante vinte e muitos anos, mesmo depois de estar a estudar em Lisboa, mantinha a tradição e esperava chegar o fim-de-semana para ir cortar o cabelo ao Sr. Joaquim (o barbeiro que faz esquina, junto ao pé do casino, na Figueira da Foz).

Com o passar do tempo, as deslocações à Figueira diminuíram e a necessidade de cortar o cabelo em Lisboa imponha-se. Face a esta situação, onde afinal havia de ir cortar o cabelo?
Uma das soluções possíveis, seria recorrer aos cabeleireiros da moda, pagar um balúrdio e sair de lá ou com uma crista ou com um penteado que agora tanto se usa. Pensei para mim, que esta não era de facto a opção a seguir. Consultei alguns colegas (homens) para saber onde iam, mas as opções também apresentadas não foram as do meu agrado.

Obviamente não corto o cabelo todas as semanas, nem todos os meses, confesso a minha preguiça, por este hábito. Sou mesmo daquelas pessoas, que depois de ouvir muitas observações em relação ao tamanho do cabelo, necessita de “apanhar” uma ventania, ficar chateado com o cabelo sempre à frente dos olhos, para assim me aperceber de que chegou a hora de o ir cortar.

As deslocações ao barbeiro do Sr. Joaquim obrigavam-me a levantar cedo, pois era preciso guardar lugar, se não corria o risco de ser atendido demasiado tarde.
Existia um expositor com as revistas do social, junto com os jornais desportivos.
Sentados na cadeira, a pergunta do costume, Como vai ser?. Sendo rara as vezes que as indicações eram seguidas e o modelo em geral era o mesmo, corte penteado e curto, com as orelhas descobertas, aparado atrás e era retirado bastante volume. (perceba-se, este era o resultado final e não o que era pedido).

Obviamente, saía do barbeiro aborrecido com o corte e outra chatice, o ir a casa para lavar a cabeça e frequentemente mudar de roupa, tal era a quantidade de cabelos guardados nos colarinhos das camisolas.

Mas nunca quis mudar, sempre recusei cabeleireiros, porque é coisa para mulheres e era ali, que se falava de futebol, ponha-se as “cuscices” em dia, refilava-se contra o presidente da Câmara e as novidades dos vizinhos dos barbeiros eram dadas a conhecer, para além de que era barato.
Com o passar do tempo surgiu a televisão, os preços aumentaram, a clientela, com a crise diminuiu, ou seja, passou a poder-se ir mais tarde ao barbeiro e agora já se comentavam as notícias da televisão.

Encontrei em Lisboa, felizmente, um cabeleireiro de homens, mesmo atrás de casa. Depois de duas idas, confesso estar satisfeito. Ao entrar somos recebidos com um sorriso, recolhem-nos o casaco e encaminham-nos para uma cadeira eléctrica, de onde não saímos mais e apartir dela, lavam a cabeça, cortam e penteiam. O atendimento é eficiente, as palavras trocadas são poucas ou nenhumas e as indicações dadas, para o corte, são completamente percebidas e executadas. O nível de satisfação do cliente é maior e o espaço que fica na carteira à saída também.

Mas agora a ida ao cabeleireiro de homens é quase um momento zen. O sossego está presente, o tratamento ao cabelo é quase relaxante e quase que dá para passar pelas brasas, como se costuma dizer.
O Sr. Joaquim que não fica atrás, são apenas ambientes e sítios diferentes. Não digo que prefiro um ao outro, são só formas de se tratar duma coisa, o cabelo.(E já que falamos em cabelo, porque não uma foto do penteado mais famoso de Portugal?)


By Dona Barbatana

1 comentário:

Anónimo disse...

A foto está um pouco desactualizada, terá de convir... mas o que interessa é ser-se bom! Viva o SPORTING!!!!!!!!!!!!!!!!!
Viva a D. Barbatana!